Começo esse texto já esclarecendo que esta é uma questão controversa! (e justamente por isso tão interessante laughing )

Vamos do mais simples para o mais complexo. No mais básico possível, para quem está começando a estudar o instrumento, violão popular significa tocar as cifras e aprender as músicas que tocam no rádio, enquanto estudar violão erudito ou clássico significa aprender a ler partituras e tocar Villa-Lobos e afins. E é bem isso mesmo, mas se pensarmos um pouco mais a fundo, será possível conhecer um pouco mais sobre esses dois universos e ver que eles são bem mais próximos do que geralmente se acredita.

O que é Música Popular?

Para pensarmos em violão popular, primeiro temos que buscar uma definição para música popular. Parece simples se definirmos que popular é tudo que não é clássico e vice-versa. Mas, pense comigo: popular é o que é do povo, ou seja, a música do povo. E quem nesse mundo não é povo? Afinal de contas, todos somos pessoas e o que ou quem, senão uma ou mais pessoas, poderia compor uma música? No fim das contas, toda música seria popular, já que todas elas são compostas, executadas e ouvidas por pessoas, não é mesmo?

Essa separação, entre o que é popular ou não, tem suas raízes na própria separação entre as classes sociais. No período em que a música que hoje conhecemos por clássica teve seu ápice, já era antiga a distinção entre a música que se tocava e ouvia nos salões nobres e a que se fazia nas ruas e tavernas, sendo essa última a popular.

Mas, com as transformações trazidas por fenômenos como a queda do feudalismo, a expansão territorial da colonização e a revolução industrial, a fronteira entre a música da corte e a música da plebe foi ficando menos definida.

A mescla entre músicas de salão e das ruas deu origem a vários gêneros existentes hoje. Um exemplo marcante aqui do Brasil é o choro.

E o Violão Nessa história?

Se você já leu nosso artigo sobre a história do violão, sabe que ele tem uma origem imprecisa e que seus ancestrais estiveram presentes tanto nos palácios quanto nas ruas. Na Europa, seu território de origem, e especialmente na Espanha, o violão teve um desenvolvimento técnico e de repertório muito marcante. É a terra do violão Flamenco, gênero considerado popular. Mais tarde, os violonistas começaram a criar adaptações para violão de obras compostas para piano ou orquestra, do chamado repertório erudito, como Bach, por exemplo.  Aos poucos começaram a surgir as obras eruditas compostas para o próprio instrumento, às vezes acompanhado de orquestra, outras vezes em duo de violões. Francisco Tárrega (1852-1909) foi um dos compositores de obras próprias para o instrumento e seu trabalho pode ser apreciado ainda hoje, gravado por inúmeros instrumentistas de todo o mundo.

Quando o violão chegou ao Brasil, tanto a corte quanto a população em geral começou a utilizá-lo e uma cultura em torno desse instrumento foi se desenvolvendo. Durante algum tempo seu uso foi muito recriminado, sendo considerado “instrumento de vagabundos”, já que era a preferência entre boêmios e seresteiros. O principal desenvolvimento do violão no Brasil foi justamente no âmbito popular, como instrumento de acompanhamento de canções, sambas, modinhas e serenatas.

Mas houve também o surgimento de uma cultura musical puramente instrumental para o violão, genuinamente brasileira. Villa-Lobos (1887-1959) e João Pernambuco (1883-1947) são expoentes dessa criação instrumental. Mas, apesar da riqueza e popularidade de suas composições, o violão só começou a ser melhor aceito como um instrumento de concerto no Brasil a partir do início do século XIX, num processo lento que teve reflexos nas décadas seguintes.

Ouça um pouco da música desses dois compositores:

Graúna (João Pernambuco)

Intérprete: Turíbio Santos

Prelúdio nº2 (Villa-Lobos)

Intérprete: Nicholas Petrou

Percebe como ambos exigem muita técnica e estudo? E percebe também como a fronteira entre o clássico e o popular se torna mais suave?

Conclusão

Portanto, essa ideia muito difundida por aí de que o violão clássico é necessariamente mais difícil e que é uma música mais rebuscada não é verdade! Como também não é correto dizer que a música instrumental para violão é sempre erudita… Temos baiões compostos para violão, por exemplo.

No fim das contas, o preparo técnico para praticar um ou outro estilo é quase sempre o mesmo, variando apenas de acordo com a complexidade daquela música que se pretende tocar. Há obras clássicas muito simples, obras populares muito complexas e vice-versa. É claro que as duas vertentes trazem uma série de costumes próprios, vestimentas, maneiras de usar o instrumento, etc, mas a técnica é a mesma. Essa separação se dá muito mais em termos estilísticos e de repertório do que propriamente como universos diferentes e isolados.

Você estuda violão erudito ou popular? Ou os dois?

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