Todo professor de música, mesmo os que ainda estão começando, já se deparou com a seguinte questão: porque será que dentre tantas pessoas que são apaixonadas por música e por violão, que têm a oportunidade e a orientação necessária para se desenvolver, somente algumas de fato se dedicam e se aprimoram enquanto outras não?

Certamente existem muitas razões para que isso ocorra, mas Carol Dweck, Professora de Psicologia da Universidade de Stanford e autora do livro Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso, oferece uma explicação bastante convincente.

Ele identifica basicamente dois tipos de mentalidade: a de crescimento e a fixada.

Mentalidade de Crescimento

Pessoas com mentalidade de crescimento entendem que conhecimento e habilidade são resultados do esforço, elas vêem inteligência e talento como frutos do trabalho. Compreendem que nossa capacidade criativa não é predeterminada geneticamente porque nossos neurônios podem fazer novas conexões continuamente.

Segundo a doutora, indivíduos com uma mentalidade de crescimento tendem a:

  1. Gostar de desafios
  2. Se motivar com os contratempos
  3. Buscar aconselhamento e crítica
  4. Ver erros como aprendizado
  5. Adotar diversas estratégias de aprendizado
  6. Se recuperar rapidamente de decepções
  7. Se sentir inspirados pelo sucesso alheio

Mentalidade Fixada

Indivíduos dotados de uma mentalidade fixada acreditam – embora geralmente não tenham consciência disso – que as habilidades de uma pessoa são um reflexo de seus dons inatos, ou seja, as pessoas nascem com uma determinada habilidade. Costumam ver a si mesmos e outras pessoas como inteligentes ou burras em vez de compreender que inteligência e habilidades são desenvolvidas.

Por exemplo, quando estudantes de mentalidade fixada ouvem um bom músico tocar, geralmente pensam: “ele é muito mais talentoso que eu, nunca vou conseguir fazer nada assim”. Por outro lado, alguém com uma mentalidade de crescimento procuraria saber como aquele artista alcançou sua fluência e tentaria de alguma forma aplicar em seu aprendizado.

A Dra. Dweck observa que indivíduos com uma mentalidade fixada tendem a:

  1. Se esquivar de desafios
  2. Se frustrar com facilidade
  3. Buscar mais aprovação que aconselhamento
  4. Ver erros como falhas pessoais
  5. Adotar poucas ou apenas uma estratégia de aprendizado
  6. Desistir após uma decepção
  7. Se sentir diminuídos ou desestimulados com o sucesso alheio

Mentalidade em Ação

Quando nos propomos a aprender algo novo, somos imediatamente apresentados a uma série de problemas para solucionar. No caso do violão, esses seriam as dificuldades motoras, rítmicas, percepção auditiva, memória, criatividade, para citar as mais comuns.

A diferença entre as duas mentalidades apresentadas está na maneira como encaramos a nós mesmos diante das dificuldades. Não é apenas uma questão de resolver se esforçar e ter persistência. Perceba que o nome delas já indica o que a doutora quis dizer:

Mentalidade de Crescimento: é possível crescer, desenvolver habilidades, talento e intelecto

Mentalidade Fixada: nascemos com inteligência e talento para determinadas habilidades (dado fixo)

Nossos melhores resultados são alcançados quando nos damos a chance de realmente aprender, o que significa errar, aceitar e aprender com os erros.

Outro ponto de suma importância: fazer sempre uma autoanálise buscando conhecer as melhores estratégias para lidar com novas informações. Há pessoas que tem maior memória visual ou auditiva, outras gostam de criar pequenas frases, enfim, não se limite a apenas uma maneira de estudar!

O maior problema da mentalidade fixada é que ela nos condena a uma predestinação sem sequer verificar que caminhos foram trilhados por aqueles que já alcançaram os resultados desejados. E isso durante o aprendizado de violão pode ser realmente prejudicial, pois dá margem para a criação de personagens míticos como “o fulano que nunca estudou nada e toca muito” (perceba que me refiro à ideia de aprender sem estudar o que NÃO É o mesmo que aprender sem fazer aulas – o que é perfeitamente possível). E consequentemente também traz à existência um outro personagem igualmente mítico: “o cara que nem adianta tentar porque nunca vai conseguir”.

O importante é ter o foco no processo e não apenas no resultado final. Tocar violão é uma atividade que te exigirá prática e aperfeiçoamento para sempre, por isso desde o início você precisa se acostumar com a noção de que tudo o que o melhor músico que você consiga lembrar nesse momento consegue fazer é fruto de um desenvolvimento contínuo e não de uma característica herdada ao nascer.

E saiba que, ao longo dos vários anos em que ministro aulas de música, meus melhores alunos sempre foram os que melhor se dedicavam ao processo e que eram considerados “sem talento” e “sem jeito”.

Pense nisso!

Fontes:

Blog AMBAMIND – http://ambamind.com.br/blog/growth-mindset-tirando-duvidas-com-carol-dweck

Blog MusiciansWay – https://www.musiciansway.com/blog/2010/07/the-growth-mindset/