Fingertstyle é um termo extensamente usado em vídeos, artigos e fóruns pela internet. Numa tradução bem literal, fingerstyle seria um estilo em que se toca com os dedos, ou ainda, cordas dedilhadas. Porém essa tradução traz um problema: se não usar uma palheta, estou automaticamente tocando fingerstyle?

Então vamos desfazer esse enrolo aos poucos…

Violão Solo

É comum que alguém que nunca tocou violão ou que esteja começando a estudar veja o violão como um instrumento de acompanhamento, usado apenas para tocar e cantar. Na verdade, essa é uma parte muito pequena do amplo universo de possibilidades do violão. Dentre essas possibilidades está o chamado violão solo, que nada mais é do que solar (tocar melodias) no violão.

Ocorre que além de tocar a melodia da música também é possível tocar ao mesmo tempo a harmonia (os acordes). A isso damos o nome de arranjo para violão. O Youtube está repleto de exemplos de diferentes arranjos para várias músicas, famosas ou não, muitas vezes composições próprias do artista.

Nessa forma de tocar você pode chegar a ter a impressão de ouvir mais de uma pessoa tocando ao mesmo tempo, já que a combinação dos sons da melodia e harmonia vão se completando para formar uma peça completa.

E o Fingerstyle?

Portanto, o fingerstyle é uma maneira de se referir a arranjos para violão. Criou-se uma certa confusão em torno disso em razão da recente popularidade desse estilo através da internet, especialmente com arranjos para temas de filmes, desenhos animados, games, etc. Muitas pessoas acreditam que essa é uma nova forma de se tocar. Isso não é verdade!

Os arranjos para violão existem desde que o violão existe. Uma pesquisa rápida por violão clássico, violão flamenco ou choro para violão solo trará inúmeros exemplos de músicas e arranjos com mais de um século de existência. Diversos violonistas e compositores (muitos brasileiros) são facilmente encontrados e alguns são considerados verdadeiras referências para a construção da técnica e da concepção musical dos arranjos que são feitos hoje. Veja alguns exemplos que merecem uma pesquisa:

Alguns compositores:

João Pernambuco, Brasil, 1883 – 1947 (choro)
Garoto, Brasil, 1915-1955 (choro)
F. Tárrega, Espanha, 1852-1909 (violão clássico)
A. Barrios, Paraguai, 1885-1944 (violão clássico)
Mario Escudero, Espanha, 1928-2004 (flamenco)

Alguns violonistas:

Dilermando Reis (Brasil)
Turíbio Santos (Brasil)
Raphael Rabello (Brasil)
John Williams (Austrália)
Paco de Lucía (Espanha)

Diferenças entre estilos

É claro que não se pode ignorar a diferença entre estilos. Isso envolve a forma de se conceber o arranjo, de tocar o violão, as diferentes sonoridades, o repertório, cordas de aço ou náilon, o tipo de violão e até mesmo a postura com o instrumento e a forma de se vestir!

Nesse sentido, de fato é possível afirmar que o tão falado fingerstyle seria um estilo específico. Geralmente se vê o uso de cordas de aço, violão folk, sonoridades percussivas com cordas presas ou golpes na madeira, repertório popular de temas de sucesso. Embora nenhum desses itens seja exatamente obrigatório, seu uso frequente acaba por definir o estilo em questão.

Então tocar no estilo fingerstyle seria tocar arranjos para violão que se aproximem dessas características estilísticas. Não é à toa que muitos músicos adeptos do fingerstyle são também violonistas clássicos. Um exemplo disso é o violonista da primeira foto desse post, Michael Chapdelaine. Ele é um violonista clássico premiado e também toca fingerstyle, sendo inclusive autor de alguns dos arranjos tocados por Sungha Jung (outro famoso do Youtube:)).

Como aprender fingerstyle? É mais difícil?

Outra crença muito recorrente é a de que se trata de um estilo necessariamente mais difícil ou mais evoluído, o que também não é verdade. Todo aprendizado tem suas dificuldades, requer estudo e dedicação e com o fingerstyle não seria diferente. As dificuldades mais frequentes do fingerstyle são as mesmas do violão clássico ou de qualquer outro estilo de violão solo: arpejos, ligados, pestanas, escalas, abertura de dedos, velocidade, precisão de movimentos, pizzicato, entre outras.

Se compararmos com o aprendizado de músicas cifradas, pode de fato parecer mais difícil. Porém há que se ter em conta que o estudo precisa ser gradativo e, portanto, é possível planejar uma evolução de dificuldades para fingerstyle. Por exemplo, é possível começar aprendendo cifras e depois experimentar arranjos solo mais simples. Ou ainda seria possível iniciar com os fundamentos técnicos mais básicos do fingerstyle e ir evoluindo aos poucos já com arranjos solo desde o início, sem passar por músicas cifradas – o que se aproximaria muito do estudo de violão erudito ou clássico.

O mais importante é ter a orientação de um professor ou um curso, pois assim se evita ficar perdido e tentando enfrentar barreiras incompatíveis com seu nível de desenvolvimento.

Agora você já sabe o que é esse famoso fingerstyle e também teve a oportunidade de conhecer um pouco mais das raízes dessa concepção de toque do violão. O que você achou? Deixe um comentário com sua opinião ou dúvida!

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